segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"A preparar-me para me meter em sarilhos..."

Dias de maré cheia. Em que as correntes se cruzam, medindo forças, e arrastam consigo os braços, as pernas, os cabelos. Correntes contrárias que amassam o leito do rio e o deixam despenteado. Cá fora, uma brisa suave nunca faria adivinhar o que se passa lá em baixo. Cá fora, o sol brilha, aquece, ainda que só a fingir, e as horas passam pelas folhas das árvores, acariciando-as e levando-lhes o tempo.
À tona, um ligeiro derrame aqui e ali, que se confunde com o cansaço do rio, que corre sobre estas margens há tanto tempo. Lá em baixo, o turbilhão. Sem resistência, sem luta, sem esperança ou desespero. assim, como a roupa na máquina de lavar. Deixando-se levar... deixando-se lavar... E dançando. Oh, sim! Isso sempre! Sempre, sempre dançando! E é assim que sabemos que tudo está bem!